Cliente classe A
Acho estranhamente intrigante como alguns fatos que, mesmos distintos, em situações distintas, podem convergir-se em impressões correlacionadas e até chegar ao ponto de apresentarem um mesmo denominador comum.
Ontem estive em uma concessionária onde vi uma enorme faixa dizendo ser ela a única concessionária no centro-oeste a receber uma premiação da GM, que a qualifica como “Classe A” através de seus serviços prestados. A faixa fechava com a frase: “A concessionária Classe A.”
Curiosamente, ontem também estive num hospital infantil, que me surpreendeu pelo seu estado precário, além do atendimento peculiar existente nos hospitais públicos. Um lugar hostil, sem as mínimas condições de receber crianças que precisam de ajuda. Quando disse que minha filha tinha consulta marcada como “Dr. Fulano”, a recepcionista prontamenteme disse: “ah, não é aqui não. É na entrada do outro lado do quarteirão.”
Agora, a questão: o que há de estranho nos dois casos?
Aparentemente, nada incomum e nem relacionadas em ambos os casos, senão a discrepância na “comunicação” com o seu público. No primeiro caso foi: se ela se considerava uma concessionária classe A, portanto, para a classe A, qual o sentido de vender carros populares? Por que se exaltar por um título onde, o principal veículo responsável por manter o share de mercado da montadora em terceiro lugar, é justamente os que são vendidos para a classe C? E quanto ao hospital? Não seria tão estranho se não fosse o caso de ser um hospital particular que também atendia pelo SUS, e que, por este motivo, mantinha em sua mesma estrutura, dois mundos paralelos e antagônicos, levando demasiadamente a sério a questão de “segmentação” ou de “falar a mesma língua do seu público”.
Fecho minhas impressões sobre isso com uma reflexão: Por que é melhor ostentar um título que beneficia a menor parte do seu público e ignorar a maioria maçante que, aparentemente não é tão interessante assim? Até que ponto as pessoas gostam de serem classificadas, separadas, tabuladas de acordo com estilo de vida, suas escolhas ou falta delas? Achei interessante quando o Carlos Roberto Massa (Ratinho) disse, no Max Mídia que não gosta de chamar seu público – audiência predominante – de classe C, mas de povo brasileiro, porque é assim que eles se sentem. São parte de um todo e não uma camada separada em detrimento da sua renda.
E as classes D e E? São discriminadas do mercado, da sociedade, dos targets. Por quê? Será que, mesmo nos pensamentos mais capitalistas, não se pode considerar que um dia, porventura, haverá a possibilidade de migração delas, ou de seus descendentes para a classe C ou até superior e aí, ter que falar com as mesmas pessoas de forma diferente? Ou não podem considerar outra questão, como o de estender, mesmo que em menor proporção, as mesmas condições de atendimento que o hospital tem para as ditas “classes superiores” para as outras, nem que fosse ao menos para manter autenticidade e boa imagem da empresa de forma geral?
Fecho com uma frase que li hoje, do @brunoscarto, que por sinal, admiro bastante: “cachorros não escolhem amigos pela classe social”. Talvez algumas empresas precisem aprender de branding com eles.
Por Carla Brasil, graduanda em MKt e planner da Netmídia.
Texto publicado também aqui.
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