Empreendedorismo criativo

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Era uma vez a nova economia. O ano era 1999 e a euforia tomava conta. Era a época das pontocom, das empresas digitais. Ninguém entendia direito o que estava acontecendo. O único consenso é que o dinheiro estava farto. Investidores olhavam apresentações Powepoint e escreviam cheques. “Vamos começar a vender artigos de pet shop online.” Ótimo! Toma um cheque de US$ 20 milhões. “Vamos criar um portal para o público da América Latina.” Sensacional! Toma um cheque de R$ 50 milhões. Várias destas empresas abriram capital em Nasdaq, sendo valoradas em milhões e milhões. E não era só nos EUA. Aqui no Brasil também vivemos esta época, onde projetos de sites eram cobrados na casa dos sete dígitos e várias empresas surgiam e eram compradas. A gente ainda não falava em Startups.

Estas empresas, em sua grande maioria, tinham um problema fundamental: não ganhavam dinheiro. Mais do que isso: gastavam MUITO dinheiro. Gastavam em contratações, em escritórios chiques e tudo mais que se possa imaginar. As revistas falavam deste novo mundo, das empresas digitais. A FastCompany (que existe até hoje) e a Business 2.0 (falecida), tinham a grossura de um guia telefônico, repletas de anúncios caríssimos. O SuperBowl, que é o evento mais caro para anunciar nos EUA tinha praticamente só empresas ponto com. Tudo lindo! Só que uma hora o dinheiro acaba. Os investidores começaram a perceber que o esperado retorno não viria. Algumas empresas, se tudo desse certo, só iriam começar a lucrar dali a 30, 40 anos. E veio 2000.

Muito já se falava sobre uma bolha, sobre uma valorização excessiva das empresas pontocom. Nasdaq atingia patamares estratosféricos. Foi bem nesta época que começou a quebradeira. O dinheiro ia acabando e BUM, fechou-se uma empresa. No outro dia, nova empresa, em um efeito cascata. De repente os americanos começaram a fugir das ações de empresas pontocom. Os fundos de investimento também começam a pular fora. E veio o estouro da bolha. Do dia para noite, vários empresários tiveram que fechar as portas das suas empresas. Alguns, inclusive brasileiros, conseguiram ainda aproveitar os últimos momentos antes da crise e vender seus negócios.

No início da década de 2000, no período pós crise, algumas empresas começaram a despontar. A Apple, por exemplo, colhendo resultados excelentes com o revolucionário iMac, lança o iPod e o iTunes e começa a curva que conhecemos hoje. Ao mesmo tempo o Google, uma empresa criada em 1998 se torna a líder mundial de buscas, desbancando empresas como Yahoo! e Altavista. Em 2000 é criada a solução de monetização que iria mudar a indústria da publicidade no mundo: o Adwords. Esta invenção transforma uma empresa praticamente sem faturamento em uma máquina de ganhar dinheiro, que permanece até hoje crescendo e criando novos produtos.

A era das redes
Em meados da década já utilizávamos as redes sociais, com o Orkut, criado em 2004 dentro do Google e batizado com o nome do engenheiro Orkut Büyükkökten. Nos EUA, o Facebook crescia rapidamente, principalmente dentro das universidades. O Youtube começa também nesta época e rapidamente é comprado pelo Google, se tornando um fenômeno. Alguns negócios conseguiram crescer e abrir capital, mesmo com o mal humor do mercado. Foi o caso do Paypal, que conseguiu se tornar o maior meio de pagamento online do mundo, sendo comprado pelo Ebay em seguida. A partir de 2005, o mercado começou a olhar novamente para este setor, que tanto impulsionou a inovação nos EUA. Desta vez com mais pragmatismo e foco nos resultados.

No Brasil, também observamos movimento parecido, com várias empresas de tecnologia fechando as portas no estouro da bolha e outras que continuaram vivas.

Um dos pontos que mais impactavam o orçamento na criação de uma nova empresa de tecnologia eram os custos de infra-estrutura e desenvolvimento, além dos softwares de apoio ao negócio, como CRM e o ERP. Com o surgimento da nuvem, estes custos caíram drasticamente, possibilitando que novos empreendedores criassem seus softwares sem gastar quase nada. Agora qualquer um poderia concorrer com a IBM, SAP e qualquer outra empresa de tecnologia estabelecida. Basta conhecer o que o cliente precisa e desenhar aplicações que consigam atender a estas necessidades de maneira mais eficaz. O mesmo tempo que trouxe vantagens, esta facilidade também acarreta em uma redução das barreiras de entrada no mercado. Ou seja, qualquer um pode concorrer com você.

Nos EUA, startups eram tradição e fizeram a fama de grandes empreendedores, ícones do mercado de tecnologia, como Bill Gates e Larry Elisson, que estão ainda entre os mais ricos do mundo. No Brasil, não temos nenhum bilionário de tecnologia. Nossos bilionários vieram da indústria, do comércio, do setor financeiro e da agricultura. Só se começou a falar de Startups há 4 ou 5 anos. Só recentemente começamos a ver investidores anjo (aqueles investidores pessoa física, que além de investir, apoiam o negócio com sua experiência e rede de contatos) e fundos realmente interessados neste tipo de empresa. Temos alguns casos de sucesso recentes, como o Buscapé, que foi comprado pela Naspers, mas faltam casos de empresas bilionárias de tecnologia.

Profissão: empreendedor
Até pouco tempo também faltavam empreendedores. Os empreendedores tradicionalmente, no Brasil, criavam suas empresas por necessidade. Geralmente não conseguiam mais se recolocar profissionalmente e não tinham outra escolha. Nos anos recentes, estamos observando um fenômeno invisível no Brasil. Vários profissionais de primeira linha estão optando por sair de opções mais “seguras” para criar seus próprios negócios. São profissionais com alta empregabilidade, que resolveram empreender por entender que esta é a sua vocação, por gostarem de lidar com o desconhecido e por entenderem que o Brasil é um mar de oportunidades. Um verdadeiro parque de diversões.

Quando vamos a um mercado maduro em termos de tecnologia, e os americanos são o maior exemplo disso, conseguimos identificar milhares de empresas que aproveitaram as oportunidades e os nichos que surgiram com este amadurecimento. E não me refiro aqueles negócios que tradicionalmente associamos ao Vale do Silício, como redes sociais e apps de balada. Estes só surgem quando conseguimos primeiro atacar as grandes oportunidades. E elas estão na frente dos nossos olhos. Não só naquele tipo de negócio voltado ao consumidor final (B2C), mas também nos negócios voltados para empresas.

Olhando sob a ótica do consumidor final, temos oportunidades em todos os lados. Serviços que ainda não funcionam direito, consumidores e vendedores que ainda não conseguem se encontrar e todo o tipo de conveniência e centenas de outras possibilidades aguardam para ser exploradas. Já estamos vivendo a revolução dos APPs de Taxi, do e-Commerce, das reservas em restaurantes e outros mercados que já conseguiram encontrar empreendedores aptos e motivados a desbravá-los. O Brasil já possui um volume bilionário transacionado no e-commerce e este volume só tende a aumentar, mas acredito que ainda existem várias outras possibilidades a serem exploradas. O setor de serviços, por exemplo, está pedindo por várias empresas novas que possam trazer conveniência e eficiência aos consumidores.

Nas empresas, a situação não é diferente. Eu diria que as oportunidades podem ser ainda maiores. Mesmo as grandes empresas do país possuem necessidades ainda não atendidas. E a nuvem hoje possibilita que as áreas de negócio, como marketing, RH e contabilidade, possam comprar soluções diretamente dos fornecedores que mais gostarem, para desespero da área de tecnologia. As pequenas e médias empresas são a grande maioria dos negócios brasileiros e movem uma fatia gigantesca da economia. Estes empreendedores ainda são muito mal atendidos e empresas como Conta Azul, que vende software de gestão por R$ 29,90 por mês estão conseguindo trazer níveis de profissionalismo ainda inéditos aos seus negócios, que eram gerenciados por planilhas.

A Kaplen faz conciliação de cartões de crédito ao varejo, trabalho que é feito manualmente, no final do dia, pela grande maioria dos varejistas de todos os portes. A boa notícia é que recém começamos a resolver os problemas mais relevantes. Milhares de outros esperam para ser resolvidos.

O próximo bilhão
E onde está a próxima empresa de R$ 1 bilhão? E vejam que não me refiro a uma empresa sendo comprada por R$ 1 bilhão (que já seria excelente), mas aquela que realmente consegue faturar este valor. Esta empresa provavelmente já foi criada e está sendo tocada dentro de uma aceleradora, um co-working, ou dentro da sala de alguém. Existem vários empreendedores hoje tentando atacar estas oportunidades de frente, aprendendo e desbravando este ecossistema Brasileiro. Falo desbravando porque ainda estamos formando o ecossistema. Não bastam apenas empreendedores. Precisamos de investidores, instituições de ensino, associações e apoio do governo. Todos estes pontos estão andando hoje, mas ainda longe do necessário. Em alguns anos devemos ver as primeiras grandes empresas de tecnologia oriundas desta leva despontarem no mercado.

Para onde olhamos existem oportunidades. Literalmente. Mas é claro que nem tudo são flores. Não é fácil empreender. Nós, Brasileiros, não estamos acostumados em ser agressivos comercialmente, em sair vendendo, em arriscar. Nossa criação, na média, é conservadora neste aspecto. Trata-se de uma mudança cultural importante. A boa notícia é que ela está acontecendo cada vez mais e estamos com menos medo de errar, de aprender. Empreender se aprende fazendo, principalmente, e é uma experiência frustrante e recompensadora ao mesmo tempo. É preciso saber lidar com os milhares de obstáculos que vão surgir e entender que isto faz parte da jornada.

Uma das melhores coisas que vieram do Vale do Silício nos últimos anos foram as novas metodologias enxutas para colocar uma empresa de pé. Até pouco tempo os empreendedores hesitavam entrar no mercado devido aos altos custos para colocar uma empresa de pé. Escritório, softwares, funcionários e muita incerteza. Estas novas metodologias vieram para reduzir o risco, à medida que permitem que se tire uma ideia do papel rapidamente. A grande palavra da vez é a validação. Tudo que temos ao ter aquela ideia maravilhosa são hipóteses, e estas hipóteses precisam ser validadas com clientes reais antes de dar o próximo passo.

Em outras palavras, se um empreendedor entende que seu novo APP pode revolucionar o mercado de serviços domésticos, antes de gastar um centavo desenvolvendo o software, todo seu investimento de tempo vai ser conversando com clientes reais e validando esta ideia. Se houver evidências suficientes que existe valor e as hipóteses forem comprovadas, damos o próximo passo, que servirá para validar novas hipóteses. E aí por diante.

Esta visão traz mais segurança ao empreendedor, que pode “testar” a sua startup antes de sair de seu emprego ou lançá-la. Permite que possamos dar passos mais embasados e coloca método para estas etapas iniciais. Antes falávamos de plano de negócios. O problema do plano de negócios é que ele era construído com base em premissas ainda não validadas e dificilmente se provava assertivo. Ao invés de desenharmos um plano de negócio, é muito mais simples criarmos um modelo de negócios, ou seja, como a empresa deve ganhar dinheiro, e validar cada uma das hipóteses deste modelo.

Se a minha premissa básica é que as pessoas pagariam por um APP de serviços domésticos, eu primeiro preciso entender se as pessoas veem valor e quanto estariam dispostas a pagar. Não preciso passar horas escrevendo um plano ou fazendo simulações mirabolantes no Excel. Preciso escolher 15, 20 clientes e conversar sobre o APP. Se não perceberem valor, eu mudo o projeto, ou “pivoto”, como dizemos no jargão das startups.

Com a maior parte das oportunidades ainda mal exploradas, ou não exploradas, novas metodologias para colocarmos rapidamente uma empresa de pé, a nuvem trazendo qualquer software necessário a um preço acessível, acredito que hoje estamos realmente vivendo em uma era de parque de diversões empreendedor no Brasil. Precisamos de cada vez mais empreendedores motivados e dispostos a encarar os desafios burocráticos, entendendo que os resultados vem com esforço e resiliência e que o mais importante é a capacidade de execução. Creio que com essa mentalidade, teremos ótimas surpresas no mercado empreendedor nos próximos anos. E lembre-se, a próxima empresa de R$ 1 bilhão já existe.

Fonte: Proxxima

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