Insatisfação

11:37 NETBLOG 4 Comentarios



Aproveitei o feriado para ir ao cinema, algo que não fazia há um bom tempo. Para não correr o risco de me arrepender de sair de casa, escolhi com bastante cautela o filme do dia: Meia noite em Paris, do premiado diretor Woody Allen. Na minha cabeça, a assossiação não poderia ser mais perfeita: um dos melhores diretores de cinema dos nossos dias, a cidade luz e um roteiro que parecia ser incrível. E lá estava eu, na sala do cinema, embasbacada - para dizer o mínimo.
Todo o assombro não se deve unicamente à fotografia do filme que, vamos combinar, merece um texto à parte. Paris de dia, Paris de noite, Paris sob à chuva. Como bem diz o personagem principal, impossível decidir qual é a mais bonita. Tampouco o assombro se deve a história gostosa, aparentemente despretensiosa, que se desenrola diante de nossos olhos. O assombro se deve, em grande parte, à maneira única como Woody Allen apresenta uma verdade quase universal: a nossa sempre crescente insatisfação.
Durante todo o filme, vemos o personagem principal insatisfeito com a vida que vive. Mais precisamente, com o tempo que vive. Se dependesse dele, ele viveria em outra época, em outra realidade, em outro tempo. Mas, quando enfim, se depara com alguém de certa forma semelhante a ele em insatisfação temporal, ele enxerga o que sempre esteve diante dos seus olhos: "o presente é sempre insatisfatório porque a vida também o é".
Saí do cinema pensando nisso. Em quanto somos insatisfeitos com tudo e acabamos nunca aproveitando aquilo que está diante de nossos olhos (e mãos): o presente. Estamos sempre achando que antigamente as coisas eram melhores ou, quem sabe, num futuro próximo o serão. E, diante disso, nos esquecemos de viver o aqui e o agora, o momento presente, que é o único que podemos mudar, transformar e, quem sabe, deixar da maneira como sempre sonhamos.
Sonhamos com amores que um dia virão e acabamos não curtindo os amores que estão à nossa volta. Sonhamos com empregos que se foram e acabamos não valorizando os que chegaram. Sonhamos com amigos que deixamos para trás e simplesmente ignoramos os que estão, neste momento, conosco. E o pior disso tudo é que, quando o fim estiver próximo, nos arrependeremos de tudo o que deixamos de viver por estar no lugar errado, na hora errada - ou seja, bem longe do presente.
O dia de hoje nunca mais se repetirá. Você e eu estamos carecas de saber isso. O que precisamos é viver essa verdade. Se hoje nunca mais voltará, por que não fazer dele um dia tão especial e único a ponto de torná-lo inesquecível? Não precisamos de grandes coisas pra fazer isso acontecer. Na verdade, precisamos de uma única coisa: vontade. Vontade de fazer de hoje o dia mais especial das nossas vidas. E de fazer de amanhã um dia ainda mais especial que hoje. E assim, sucessivamente, de tal forma, que sempre estaremos conectados com o hoje, já que temos uma missão: fazer dele um verdadeiro presente!

Renata Cabral
Diretora de Criação

4 comentários :

  1. Muito bom Rê, mais ainda, o filme me faz pensar sobre: saber fazer aquilo a que se propõe fazer. Ele se propõe escrever e amar, e a caminhar e descobrir, descobrir o que está ao seu redor e como parte disso descobrir a si mesmo. Muito sútil as tiradas de Allen, eu sempre digo que: "o espectador desinformado deixará passar muitas referências incríveis nos filmes de Woody ". Bom você sabe que sou suspeito a falar desse filme, quero tê-lo para mim. Em tempo, digo que a forma que o diretor apresentou a capital francesa foi de indissoluvelmente poética e diria ainda coerente, afinal, basta um único passeio na velha capital para você se depara "par hasard" com Picasso, Jaymes Joce, Loutrec, Degas e entre tantos outros. Bom e o que eu vejo de tudo isso??? RINOCERONTES
    Abraços querida.

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  2. Muito bom Rê, mais ainda, o filme me faz pensar sobre: saber fazer aquilo a que se propõe fazer. Ele se propõe escrever e amar, e a caminhar e descobrir, descobrir o que está ao seu redor e como parte disso descobrir a si mesmo. Muito sútil as tiradas de Allen, eu sempre digo que: "o espectador desinformado deixará passar muitas referências incríveis nos filmes de Woody ". Bom você sabe que sou suspeito a falar desse filme, quero tê-lo para mim. Em tempo, digo que a forma que o diretor apresentou a capital francesa foi de indissoluvelmente poética e diria ainda coerente, afinal, basta um único passeio na velha capital para você se depara "par hasard" com Picasso, Jaymes Joce, Loutrec, Degas e entre tantos outros. Bom e o que eu vejo de tudo isso??? RINOCERONTES
    Abraços querida.

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  3. Leandro
    Obrigada por participar e comentar do nosso blog e em nome da Renata, nossa diretora de criação e autora deste texto, deixo aqui o nosso muito obrigada.
    Volte sempre!
    ;)

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  4. Lê, brigada! E concordo com vc: precisamos por mais rinocerontes em nossas vidas! :)

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